Gota tofácea do joelho: causas, sintomas e tratamento
Saiba como a gota tofácea do joelho pode desgastar a cartilagem e veja como evitar limitações no dia a dia.
No consultório, não é raro chegar alguém com o joelho dolorido, inchado e já com certo desalinhamento.
Depois de ouvir a história, examinar e analisar os exames de imagem, muitas vezes encontro o mesmo diagnóstico: gota tofácea do joelho.
Grande parte dos pacientes cresceu ouvindo que gota é “doença do dedão do pé”. Quando mostro que o problema resolveu se instalar no joelho, em geral já estamos lidando com uma fase mais adiantada, marcada por crises repetidas, perda de mobilidade e rigidez.
Entender o que está ocorrendo dentro da articulação muda a forma de encarar a doença, ajudando a organizar o tratamento, controlar melhor a dor e reduzir a chance de um dano definitivo no joelho.
O que é gota tofácea do joelho na prática clínica
Gota é uma doença inflamatória das articulações ligada ao excesso de ácido úrico no organismo.
Quando esse nível fica elevado por muito tempo, quadro chamado de hiperuricemia, formam-se cristais finos e pontiagudos que se depositam dentro da articulação.
Com os anos, esses cristais passam a se agrupar e surgem os tofos, nódulos endurecidos que podem aparecer sob a pele, em tendões e no interior das articulações.
Quando esses depósitos se instalam no joelho, chamamos de gota tofácea do joelho.
Costumo explicar aos pacientes que esses nódulos funcionam como “pedrinhas” internas, gerando atrito, dor e perda de mobilidade.
Causas e fatores de risco
O elemento central da gota no joelho é o ácido úrico elevado de forma crônica, que pode ocorrer porque o organismo produz em excesso, porque os rins eliminam menos do que deveriam ou pelas duas situações combinadas.
No dia a dia, existem alguns fatores repetidos em quem desenvolve gota tofácea do joelho:
- Histórico familiar de gota.
- Consumo frequente de bebidas alcoólicas, sobretudo cerveja.
- Dieta rica em carnes vermelhas gordurosas, vísceras e frutos do mar.
- Uso prolongado de certos medicamentos, como diuréticos.
- Obesidade, hipertensão e doenças renais.
Quando esse cenário se mantém por muitos anos, os cristais se acumulam em silêncio. Em uma fase posterior, surgem os tofos e o comprometimento mais intenso da articulação.
Sintomas
O quadro clássico de gota é a crise aguda, com dor intensa, inchaço rápido, calor e vermelhidão.
No joelho, vejo com frequência pacientes que não conseguem apoiar o peso do corpo na perna afetada durante a crise.
Na fase tofácea, o problema vai além das crises isoladas. Aparecem nódulos firmes ao redor do joelho, deformidades visíveis, rigidez, sensação de atrito e estalos.
Atividades simples, como caminhar em terreno irregular, agachar ou subir ladeira, passam a exigir esforço bem maior.
Em consulta, é comum ouvir relatos de piora após exageros alimentares, consumo de álcool, desidratação ou pequenos traumas.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico começa com uma conversa detalhada.
Pergunto como a dor aparece, com que frequência surgem as crises, quais articulações já foram acometidas, quais remédios o paciente utiliza e se há outras doenças metabólicas associadas.
Depois, avalio o joelho e outras articulações, procuro tofos que possam ser palpados, áreas deformadas e qualquer limitação de movimento que indique comprometimento mais avançado.
Os exames de sangue complementam essa avaliação, medindo o ácido úrico e verificando outras alterações que costumam acompanhar a gota.
Em determinadas situações, punção articular pode ser feita durante uma crise para analisar o líquido ao microscópio; a identificação dos cristais confirma a origem gotosa da inflamação.
Exames de imagem completam o raciocínio:
- Radiografias mostram erosões ósseas e deformidades.
- Ultrassom e ressonância magnética ajudam a localizar tofos, avaliar a extensão do processo inflamatório e verificar o estado da cartilagem.
Por esse motivo, quem apresenta dor recorrente, inchaço e nódulos na região do joelho deve buscar ortopedista de joelho para diagnóstico preciso, evitando atrasos no tratamento.
Abordagem de tratamento
No tratamento, trabalhamos sempre com duas frentes principais: controlar a crise aguda e impedir novas crises por meio do controle adequado do ácido úrico.
Durante a crise, o objetivo é aliviar a inflamação e a dor:
- Anti-inflamatórios ou corticoides podem ser prescritos, sempre considerando outras doenças do paciente e possíveis interações medicamentosas.
- Compressas frias, elevação do membro e redução temporária da carga sobre o joelho costumam trazer alívio adicional.
Para o controle de longo prazo, medicamentos para reduzir o ácido úrico geralmente são prescritos, cuja dose é ajustada ao longo do tempo, com acompanhamento laboratorial.
A meta é manter o ácido úrico em níveis que impeçam a formação de novos cristais e favoreçam a redução gradual dos tofos já existentes.
Alimentação, hábitos e quando considerar cirurgia
Costumo reforçar que o remédio isolado não resolve tudo. Ajustes de estilo de vida potencializam o tratamento. Orientações frequentes:
- Reduzir carnes vermelhas gordurosas, vísceras e alguns frutos do mar.
- Evitar excesso de álcool, principalmente cerveja.
- Diminuir refrigerantes e bebidas ricas em frutose.
- Beber água ao longo do dia para facilitar a eliminação do ácido úrico pelos rins.
- Controlar o peso, pressão arterial e glicemia.
Em muitos casos, são incluídos na rotina exercícios de fortalecimento da musculatura da coxa e do quadril, sempre com suporte de fisioterapeuta ou educador físico, para diminuir a sobrecarga no joelho e melhorar a estabilidade.
Quando considerar cirurgia
A cirurgia não é a primeira escolha, mas pode ser necessária quando os tofos são muito volumosos, causam dor contínua, comprimem nervos ou tendões, rompem a pele ou deformam de maneira importante a articulação.
Nesses cenários, a retirada cirúrgica dos tofos é considerada e, quando indicado, procedimentos associados na cartilagem e estruturas vizinhas.
Quem convive com gota tofácea do joelho precisa de informação clara, acompanhamento próximo e participação ativa no tratamento.
Orientações
Cuidar da alimentação, respeitar os limites da dor, não se automedicar de forma repetida com anti-inflamatórios e manter as consultas em dia faz diferença real na evolução.
Quando o tratamento é bem conduzido e associado a mudanças de hábito, o risco de dano permanente reduz bastante e o paciente volta a se movimentar com mais confiança e menos dor.



