As lesões osteocondrais afetam a cartilagem e osso subcondral, geram dor, inchaço e limitação de movimento.
Preparei este guia para explicar como surgem, quais são os sinais, como confirmar o diagnóstico e quais tratamentos ajudam a recuperar função com segurança.
O que são lesões osteocondrais
O termo descreve um dano que envolve a cartilagem que reveste a articulação e o osso logo abaixo dela.
A cartilagem é lisa e resiliente, reduz atrito e distribui carga. Quando ocorre ruptura ou descolamento, a superfície perde regularidade, o osso subcondral sofre e a articulação passa a doer.
Como surgem
Os mecanismos mais comuns incluem entorses, impactos diretos, torções de alta energia, instabilidade articular e sobrecarga repetitiva.
Em joelho e tornozelo, quedas, mudanças bruscas de direção e saltos favorecem o problema. Doenças como osteocondrite dissecante e desalinhamentos dos membros também elevam o risco.
Sinais e sintomas
Entre as principais queixas relatadas por meus pacientes, destaco:
- Dor localizada que piora com carga.
- Inchaço intermitente e após esforço.
- Rigidez matinal curta.
- Estalos.
- Sensação de travamento.
- Perda de amplitude são achados frequentes.
- Em alguns casos, há corpo livre intra-articular que provoca bloqueios súbitos.
Diagnóstico
Começa com uma avaliação clínica detalhada, seguida de exames de imagem.
Radiografias ajudam a avaliar alinhamento e lesões ósseas, enquanto a ressonância magnética mostra extensão do dano na cartilagem, edema do osso subcondral e presença de fragmentos.
Em casos selecionados, a artroscopia confirma e já trata a lesão.
Tratamento: do conservador ao cirúrgico
A escolha depende de tamanho e profundidade da lesão, localização, sintomas, idade, nível de atividade e presença de outros problemas como meniscopatia, instabilidade ou desalinhamento.
O objetivo é reduzir a dor, restaurar a superfície articular e devolver a função.
Plano conservador
- Controle de carga, ajuste de treinos e ortoses quando indicado.
- Fisioterapia focada em força, controle motor, mobilidade e propriocepção.
- Analgésicos e anti-inflamatórios conforme prescrição.
- Infiltrações selecionadas para dor e inflamação.
Artroscopia com desbridamento e regularização
Em lesões pequenas e periféricas, remover fragmentos instáveis e regularizar as bordas reduz a dor e evita a progressão.
É um procedimento minimamente invasivo que permite retorno rápido às atividades do dia a dia.
Microfraturas e nanofraturas
Perfurações no osso subcondral estimulam a formação de um tecido de reparo que preenche o defeito.
Indicado para defeitos focais de espessura total, normalmente menores. Exige reabilitação cuidadosa e controle de carga nas primeiras semanas.
Transplante osteocondral autólogo (mosaicoplastia)
Retira-se cilindros de cartilagem e osso de áreas de menor carga e transfere-se para o defeito, criando um mosaico.
Útil em lesões osteocondrais de áreas de apoio, com bom potencial de restauração da superfície.
Enxerto osteocondral homólogo
Usa enxertos de banco de tecidos para defeitos maiores, quando não é viável retirar enxerto suficiente do próprio paciente. Pode reconstruir áreas amplas com congruência adequada.
Transplante autólogo de condrócitos (ACI/MACI)
Coleta de células da cartilagem do próprio paciente, cultivo em laboratório e reimplante na lesão com suporte de membrana. Indicado em defeitos grandes e focais, em pacientes ativos e sem artrose avançada.
Biomateriais e membranas
Membranas de colágeno e scaffolds combinados a técnicas de estimulação óssea ajudam a estabilizar o coágulo e guiam o reparo. São alternativas em cenários específicos conforme avaliação do especialista.
Reabilitação e retorno ao esporte
O plano de reabilitação é individualizado. Em geral, inicia com controle de dor e edema, evolui para ganho de mobilidade, força e controle neuromuscular e avança para gestos esportivos.
O retorno ao esporte depende do tamanho da lesão, do método usado e da resposta ao treino.
Critérios objetivos como ausência de dor, força simétrica e testes funcionais guiando a liberação elevam a segurança.
Prevenção
- Fortalecimento de quadríceps, glúteos, panturrilhas e core.
- Técnica de salto, aterrissagem e mudança de direção com supervisão.
- Progressão gradual de carga e volume de treino.
- Uso de calçados adequados e atenção ao terreno.
- Correção de desalinhamentos e desequilíbrios quando presentes.
Agende uma consulta para uma avaliação mais cuidadosa do seu caso e pensarmos juntos na melhor linha de tratamento.
FAQs
Lesões osteocondrais e lesões condráis são a mesma coisa?
Não. Lesões condráis envolvem apenas a cartilagem. Lesões osteocondrais envolvem cartilagem e o osso logo abaixo, o que muda prognóstico e tratamento.
Onde as lesões osteocondrais são mais comuns?
Joelho e tornozelo concentram a maioria dos casos. No joelho, côndilos femorais e patela. No tornozelo, o domo do tálus.
Toda lesão osteocondral precisa de cirurgia?
Não. Lesões pequenas e pouco sintomáticas podem responder a fisioterapia e ajustes de carga. Cirurgia é indicada quando a dor persiste, há corpo livre, bloqueios ou defeitos maiores.
Quanto tempo leva para voltar a correr?
Varia conforme técnica e tamanho do defeito. Após microfraturas, a corrida leve pode iniciar entre 3 e 4 meses, com progressão guiada por testes funcionais e ausência de dor. Em transplantes, o prazo costuma ser maior.
Lesões osteocondrais viram artrose?
O risco existe, pois a superfície perde regularidade e a carga concentra. Tratar a causa, alinhar a biomecânica e restaurar a superfície reduz essa possibilidade.
Ressonância sempre detecta a lesão?
A ressonância tem alta sensibilidade, mas casos iniciais ou muito pequenos podem exigir correlação clínica e, em situações específicas, confirmação artroscópica.