Lesões e Doenças do Joelho

Doença de Blount: sintomas, causas e tratamento

Conheça os sinais de alerta da doença de Blount e entenda quando as pernas tortas viram problema.

Ver uma criança com as pernas tortas costuma deixar muitos pais cheios de dúvidas. É natural se preocupar quando o alinhamento das pernas foge do que se espera para a idade.

Na infância, em boa parte das vezes, esse formato faz parte das fases normais de crescimento.

Em alguns casos, porém, o arqueamento é mais acentuado, piora com o tempo e está ligado a uma condição específica chamada doença de Blount, que precisa ser identificada cedo para que o tratamento traga bons resultados.

Na minha rotina como ortopedista de joelho, atendo muitos pais apreensivos com esse quadro.

Pensando em responder às perguntas mais frequentes e orientar melhor as famílias, organizei este guia com os principais pontos sobre a doença de Blount.

O que é a doença de Blount?

A doença de Blount, ou tíbia vara, é um problema de crescimento que atinge a placa de crescimento localizada na parte interna da tíbia, logo abaixo do joelho.

Essa região passa a crescer menos que a parte externa, o que cria um desvio em varo, deixando a perna arqueada para fora.

O problema pode surgir tanto nos primeiros anos de vida quanto na fase da adolescência.

Quando a criança não recebe o acompanhamento de um ortopedista qualificado, a tendência é o desvio piorar com o crescimento, aumentando o risco de artrose antes do esperado.

Diferença entre pernas tortas normais e síndrome de Blount

Recém-nascidos e crianças pequenas costumam apresentar um certo arqueamento das pernas. Esse formato é esperado nessa fase da vida e está ligado às adaptações do crescimento.

Com o passar do tempo, a partir de cerca de 18 meses, o alinhamento tende a melhorar gradualmente e, na maioria dos casos, está normalizado entre 3 e 4 anos, sem que seja necessário qualquer tipo de intervenção.

Na doença de Blount, o comportamento é outro: o arqueamento costuma ser mais intenso, às vezes predominando em apenas uma perna, e não mostra sinal de melhora espontânea com o crescimento.

Causas e fatores de risco

A causa exata da doença de Blount ainda não está totalmente esclarecida.

O que se sabe é que a placa de crescimento da porção interna da tíbia passa a funcionar de forma anormal, reduzindo a formação de osso nessa região.

Alguns fatores de risco são observados com frequência:

  • Início da marcha muito precoce, antes dos 12 meses.
  • Sobrepeso ou obesidade na infância.
  • Ganho de peso rápido em pouco tempo.
  • Histórico familiar de doença de Blount ou deformidades semelhantes.
  • Carga excessiva sobre os joelhos durante o desenvolvimento.

Existe também um componente genético em parte dos casos, o que explica por que algumas crianças desenvolvem o problema mesmo sem obesidade importante.

Sintomas em crianças e adolescentes

O sinal que costuma chamar mais atenção é a perna mais curva logo abaixo do joelho. Quando a criança junta os pés, os joelhos ficam afastados, formando um vão visível.

Em muitos casos, o pé também aponta um pouco para dentro, o que reforça a impressão de que a perna está desviada.

  • Na forma infantil, o desvio aparece entre 1 e 3 anos e pode comprometer uma ou as duas pernas. No início, a criança não costuma referir dor, mas os pais percebem a perna muito curvada ou a marcha estranha.
  • Na forma do adolescente, o quadro surge ou piora após os 10 anos, geralmente em jovens com excesso de peso. Aí a queixa de dor no joelho, sensação de instabilidade e cansaço para caminhar é bem mais comum.

Sem tratamento, a sobrecarga articular pode levar a desgaste precoce, dano de cartilagem, alterações nos meniscos e dor persistente na vida adulta.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico da doença de Blount começa com um exame físico detalhado.

Na consulta, o ortopedista observa o alinhamento das pernas, se existe simetria entre os lados, como a criança anda e a mobilidade de quadris, joelhos e tornozelos.

As radiografias em pé, pegando do quadril até o tornozelo, são peça-chave na avaliação.

Com essas imagens, o médico consegue estudar o formato da tíbia, o aspecto das placas de crescimento e medir o grau do desvio em varo.

Em determinados quadros, podem ser pedidos exames complementares, como tomografia ou ressonância, particularmente em casos mais complexos, de repetição ou após cirurgias.

Tratamento

A forma de tratar varia conforme a idade da criança, o grau de deformidade e a rapidez com que o desvio está piorando.

Quando a doença de Blount é identificada nas fases iniciais, a possibilidade de corrigir o alinhamento com recursos menos invasivos é bem maior.

Órteses e acompanhamento clínico

Em crianças pequenas, com desvio moderado, o uso de órteses que vão da coxa até o pé pode ajudar a guiar o crescimento para um eixo mais reto.

O uso costuma ser prolongado, e os retornos periódicos ao ortopedista são essenciais para checar se o alinhamento está melhorando.

Cirurgias de correção óssea

Quando o desvio é intenso, está avançando ou a criança já passou da idade em que a órtese teria bom efeito, a correção cirúrgica se torna a opção mais indicada.

  • Crescimento guiado: pequenas placas ou grampos são colocados na parte da placa de crescimento que ainda cresce demais. Isso desacelera o crescimento desse lado e permite que o lado mais atrasado alcance, endireitando a perna com o tempo.
  • Osteotomia tibial: o osso da tíbia é cortado e realinhado, corrigindo o eixo da perna. O novo posicionamento é mantido com placas, parafusos ou fixador externo até a consolidação.

Após a cirurgia, são indicados período com descarga de peso limitada, fisioterapia para recuperar força e movimento, e acompanhamento até o fim do crescimento.

Prognóstico e possíveis complicações

Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento bem conduzido, muitas crianças recuperam um alinhamento próximo do normal e conseguem brincar, praticar esportes e levar vida ativa sem grandes limitações.

Se a doença de Blount é identificada tarde ou não recebe tratamento adequado, a curvatura tende a piorar, podendo gerar diferença de comprimento entre as pernas, marcha mancando, dor crônica e artrose do joelho em idade jovem.

Prevenção e cuidados com os ossos da criança

Não existe forma garantida de prevenir a doença de Blount, porém, alguns hábitos reduzem o impacto da doença e protegem as articulações em geral.

  1. Manter alimentação equilibrada, rica em cálcio e vitamina D.
  2. Estimular a prática regular de atividade física adequada para a idade.
  3. Controlar o peso, evitando obesidade na infância.
  4. Manter as consultas pediátricas de rotina em dia, com acompanhamento do crescimento e observação do alinhamento das pernas.
  5. Usar suplementos de cálcio e vitamina D apenas com indicação do médico, depois de uma avaliação individual.

Quando procurar um ortopedista pediátrico

Alguns sinais merecem avaliação especializada para afastar ou confirmar a doença de Blount:

  • Arqueamento acentuado das pernas após os 2 anos e meio.
  • Curvatura que parece piorar em poucos meses.
  • Desvio maior em apenas uma perna.
  • Queixa de dor em joelho, quadril ou tornozelo.
  • A criança manca, cansa rápido, evita correr ou não consegue acompanhar os colegas nas brincadeiras.

Quando o problema é percebido cedo e a criança é acompanhada por um especialista, aumentam as chances de segurar a deformidade, preservar o movimento das articulações e diminuir o impacto na vida adulta.

FAQs

A síndrome de Blount é grave?

É uma condição séria, porque altera o alinhamento da perna e pode levar a dor e artrose precoce. Com diagnóstico precoce e tratamento bem indicado, o risco de complicações cai bastante.

Com que idade a síndrome de Blount costuma aparecer?

Existem duas formas principais: a infantil, que surge entre 1 e 3 anos, e a do adolescente, que aparece depois dos 10 anos, geralmente em jovens com excesso de peso.

Síndrome de Blount sempre precisa de cirurgia?

Nem sempre. Em crianças pequenas com desvio moderado, o uso de órteses e o acompanhamento de perto podem controlar a deformidade. Quando o desvio é intenso ou progressivo, a cirurgia passa a ser a opção mais eficaz.

A síndrome de Blount tem cura?

Falando de forma prática, a meta é corrigir o eixo da perna e evitar prejuízo na função do joelho. Com o tratamento adequado, muitos pacientes mantêm alinhamento satisfatório e qualidade de vida, sem dor no dia a dia.

Quando devo me preocupar com pernas tortas na criança?

Se o arqueamento é muito acentuado, piora com o tempo, aparece mais em um lado ou está presente depois dos 3 a 4 anos, vale marcar consulta com ortopedista pediátrico para investigar causas como a síndrome de Blount.

Dr. Ulbiramar Correia

Ortopedista especialista em joelho Goiânia. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia). [CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240].

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