Lesões e Doenças do Joelho

Necrose asséptica da tíbia: o que é, sinais e tratamento

Saiba reconhecer e tratar necrose asséptica da tíbia, com foco em ressonância, proteção de carga e opções cirúrgicas quando indicado.

Dor no joelho que aparece do nada, piora ao apoiar o peso e não melhora como uma “inflamação comum” merece atenção.

Em parte dos casos, o problema está no osso logo abaixo da cartilagem, na tíbia, com sofrimento do tecido ósseo por falha de irrigação sanguínea e microlesões: necrose asséptica da tíbia.

O termo “asséptica” indica que não há infecção causando a lesão. O risco maior é a área enfraquecida evoluir para colapso do osso subcondral e acelerar artrose do compartimento do joelho.

O que é necrose asséptica da tíbia

É uma lesão do osso da tíbia, com morte de parte do tecido ósseo por baixa perfusão e falhas de reparo.

Quando ocorre perto do joelho, costuma acometer o planalto tibial (a “superfície” da tíbia que participa da articulação).

O ponto prático: é um problema real do osso subcondral, com potencial de piorar se a pessoa mantém carga e impacto sem diagnóstico.

Por que isso acontece

Há dois caminhos comuns:

  1. Mecânico (muito frequente): microfraturas por insuficiência do osso subcondral, mais vistas em pessoas acima dos 50–60 anos, muitas vezes sem trauma marcante. A dor costuma ser súbita e localizada no lado interno do joelho.
  2. Secundário a fatores sistêmicos: uso prolongado de corticoide, álcool em excesso, doenças metabólicas, alterações de coagulação, doenças autoimunes, tabagismo, entre outros.

Também pode haver gatilhos locais: cirurgia prévia, infiltrações, desalinhamento do joelho, menisco degenerado, sobrecarga por corrida/impacto.

Sintomas que costumam aparecer

Os sinais mais típicos são:

  • Dor no joelho com início relativamente rápido, sem pancada importante.
  • Piora ao caminhar, subir escadas ou ficar muito tempo em pé.
  • Dor bem localizada (muitas vezes no lado interno), com sensibilidade ao toque.
  • Derrame articular (inchaço) em parte dos casos.
  • Sensação de “travamento” ou perda de confiança para apoiar.

A dor pode enganar: às vezes, parece “menisco”, às vezes, “artrose”. A diferença é a intensidade e a velocidade de instalação, somadas ao padrão de piora com carga.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico começa pela história e exame físico, tentando entender o padrão da dor, carga/impacto, fatores de risco e o ponto exato de sensibilidade. Em seguida, entram os exames:

  • Radiografias com carga (em pé): podem estar normais no começo, mas ajudam a ver alinhamento, artrose e sinais de colapso ósseo em fases mais avançadas.
  • Ressonância magnética: é o exame que mais ajuda no início, pois mostra edema ósseo, alterações subcondrais, extensão da lesão e sinais de risco de colapso.

Em casos selecionados, exames de sangue entram para afastar outras causas de dor e inchaço (processos inflamatórios sistêmicos).

O que muda o jogo é uma investigação ortopédica minuciosa com correlação entre clínica e imagem.

Gravidade: por que tamanho e localização importam

Lesões pequenas podem regredir com proteção de carga e tempo.

Já lesões maiores têm mais chance de colapso e deformidade do planalto tibial, com piora progressiva e artrose secundária.

Tratamento conservador: o que costuma funcionar no início

Quando a lesão é inicial e sem colapso, o foco é tirar o estresse do osso para ele conseguir reparar:

  • Redução de carga: muletas por um período, evitando impacto e longas caminhadas.
  • Controle da dor: analgésicos/anti-inflamatórios quando indicados.
  • Fisioterapia: força de quadríceps/glúteos, mobilidade, treino de marcha, sem provocar dor.
  • Ajuste de fatores de risco: revisar corticoides, álcool, tabagismo, vitamina D e saúde óssea, quando aplicável.

Quando a cirurgia entra no radar

A cirurgia é considerada quando há falha do tratamento conservador, lesão grande, progressão na ressonância, colapso subcondral, deformidade ou dor incapacitante.

Opções que podem aparecer no plano (a escolha depende do estágio e do perfil do paciente):

  • Descompressão do núcleo: tentativa de estimular revascularização em casos selecionados.
  • Osteotomia (realinhamento): quando há sobrecarga por desalinhamento, para redistribuir forças.
  • Artroplastia (prótese parcial ou total): em estágios avançados, com colapso e artrose importante.

Cuidados do dia a dia que ajudam

Sempre compartilho com meus pacientes as seguintes recomendações:

  • Evite impacto (corrida, saltos) enquanto a dor estiver ativa.
  • Use calçado estável e evite subir/descer escadas repetidamente.
  • Controle peso corporal se estiver acima do ideal (reduz carga no joelho).
  • Não “teste” o joelho em dor forte, pois isso aumenta risco de piora da área frágil.
  • Se a dor surgiu subitamente e não melhora em 7–10 dias, não trate como algo simples.

Quando procurar especialista com urgência

Procure avaliação rápida se houver:

  1. Dor intensa com incapacidade de apoiar.
  2. Inchaço importante e persistente.
  3. Dor noturna que não alivia com repouso.
  4. Piora progressiva semana a semana.
  5. Histórico de corticoide sistêmico, alcoolismo, doença reumatológica, problemas de coagulação.

O diagnóstico cedo reduz risco de colapso e muda o tipo de tratamento que é possível fazer.

Dr. Ulbiramar Correia

Ortopedista especialista em joelho Goiânia. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia). [CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240].

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