Cirurgia do Joelho

Cirurgia de menisco vale a pena?

A cirurgia de menisco é um procedimento que frequentemente gera dúvidas em meus pacientes.

Como ortopedista especialista em joelho, percebo que muitas pessoas chegam ao meu consultório ansiosas, questionando se a cirurgia de menisco vale a pena e quais são as alternativas disponíveis.

Neste artigo, abordarei os principais aspectos relacionados ao tratamento das lesões meniscais, desde o diagnóstico até a recuperação, apresentando dados científicos atualizados.

Essa informações podem ajudar na compreensão de quando a intervenção cirúrgica é realmente necessária e quando outras abordagens terapêuticas podem ser mais adequadas.

Entendendo o menisco e suas lesões

O menisco é uma estrutura fibrocartilaginosa em forma de “C” que atua como amortecedor e estabilizador entre o fêmur e a tíbia.

No joelho, temos dois meniscos: o medial (interno) e o lateral (externo), sendo o medial geralmente o mais lesionado por ser menos móvel e mais suscetível a impactos durante traumas.

Em minha experiência clínica, observo que as lesões meniscais ocorrem principalmente através de traumas, como entorses, sendo comum em atletas e praticantes de atividades que envolvem movimentos de rotação do joelho.

Os sintomas mais frequentes incluem dor localizada, inchaço, rigidez, sensação de travamento e dificuldade para movimentar a perna.

O diagnóstico preciso é fundamental e geralmente realizado através de exame físico detalhado e exames de imagem. A ressonância magnética (RM) é considerada o método preferencial de diagnóstico, conforme recomendação da Associação Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS).

Quando a cirurgia de menisco vale a pena?

Esta é a pergunta que mais recebo em meu consultório. A resposta não é simples e depende de diversos fatores individuais.

De acordo com as evidências científicas atuais, a cirurgia de menisco vale a pena principalmente nas seguintes situações:

  1. Lesões sintomáticas instáveis: Quando o rasgo meniscal causa bloqueio mecânico do movimento ou travamento do joelho.
  2. Pacientes jovens com lesões traumáticas: Especialmente em lesões extensas onde a preservação do menisco é crucial para prevenir complicações futuras.
  3. Lesões reparáveis: Em casos onde a sutura meniscal é possível, principalmente em rasgos na região periférica vascularizada do menisco.

Um estudo conduzido na Universidade de São Paulo com 400 pacientes demonstrou que a meniscectomia artroscópica apresenta bons resultados em mais de 80% dos casos de lesões meniscais traumáticas.

No entanto, é importante ressaltar que o consenso atual entre especialistas é preservar ao máximo o tecido meniscal, sobretudo em pacientes jovens.

Técnicas cirúrgicas e taxas de sucesso

As abordagens cirúrgicas para lesões meniscais evoluíram significativamente nas últimas décadas. Em minha prática, utilizo principalmente duas técnicas:

Reparação meniscal

A sutura do menisco é realizada quando o objetivo é preservar a estrutura. Uma meta-análise recente envolvendo quase 4.000 pacientes mostrou uma taxa de falha de 14,8% nas reparações meniscais.

Outro estudo revelou taxas de sucesso de 83% (intervalo de confiança: 77%-89%).

Meniscectomia parcial

Quando a reparação não é possível, opto por remover apenas a porção danificada do menisco que causa sintomas. Esta abordagem minimiza as complicações a longo prazo associadas à remoção total.

A artroscopia é o procedimento de escolha, pois é minimamente invasivo e permite melhor recuperação do paciente.

São realizadas pequenas incisões de aproximadamente 5mm, resultando em cicatrizes quase imperceptíveis.

Alternativas à cirurgia: quando o tratamento conservador é preferível

Em meu consultório, sempre avalio criteriosamente se a cirurgia de menisco vale a pena para cada paciente específico.

Um estudo randomizado com acompanhamento de 5 anos demonstrou que a fisioterapia baseada em exercícios não foi inferior à meniscectomia parcial artroscópica em pacientes com lesões degenerativas do menisco.

As evidências científicas indicam que o tratamento conservador deve ser considerado principalmente em:

  • Lesões degenerativas, especialmente em pacientes acima de 40 anos.
  • Lesões periféricas estáveis que não causam sintomas significativos.
  • Pacientes com artrose associada.

Riscos e complicações: o que considerar antes da cirurgia

Todo procedimento cirúrgico envolve riscos, e é meu dever informar aos meus pacientes sobre as possíveis complicações. Entre os riscos da cirurgia de menisco estão:

  • Trombose venosa profunda (TVP).
  • Infecção, especialmente em pacientes com baixa imunidade.
  • Fístula sinovial, quando há vazamento de líquido pelo orifício cirúrgico.

Por outro lado, não operar quando há indicação também apresenta riscos. Estudos mostram que após a remoção completa do menisco, 95% das pessoas desenvolvem algum tipo de problema cartilaginoso.

O risco de desenvolver artrose é de aproximadamente 20% para remoção do menisco interno e 40% para o menisco externo.

A importância do acompanhamento especializado

Em minha experiência de mais de 15 anos tratando lesões meniscais, observo a importância de consultar um ortopedista para avaliar se a cirurgia de menisco vale a pena, já que a decisão deve ser individualizada.

Com base na minha prática, realizo uma análise minuciosa da lesão, considerando:

  • Tipo e localização da lesão.
  • Idade e nível de atividade do paciente.
  • Presença de lesões associadas, como ruptura do ligamento cruzado anterior.
  • Sintomas e limitações funcionais.

É importante que os pacientes busquem atendimento médico ao notarem sinais como dor persistente, inchaço, travamento do joelho ou instabilidade, permitindo um diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Conclusão

A cirurgia de menisco vale a pena sim em casos específicos, particularmente em lesões traumáticas instáveis e em pacientes jovens.

No entanto, as evidências científicas atuais apontam para uma abordagem mais conservadora em lesões degenerativas, priorizando a fisioterapia e o tratamento não-cirúrgico.

Como ortopedista, meu objetivo é sempre oferecer o tratamento mais adequado a cada paciente, considerando não apenas a lesão em si, mas também suas expectativas, estilo de vida e objetivos.

A decisão sobre realizar ou não a cirurgia deve ser compartilhada entre médico e paciente, baseada em evidências científicas e na análise individualizada de cada caso.

Se você apresenta sintomas de lesão meniscal, recomendo buscar a avaliação de um especialista em joelho.

Somente após um diagnóstico preciso e uma análise criteriosa será possível determinar se a cirurgia de menisco vale a pena para o seu caso específico ou se outras abordagens terapêuticas podem ser mais adequadas.

Dr. Ulbiramar Correia

Ortopedista especialista em joelho Goiânia. Membro titular da SBCJ (sociedade brasileira de cirurgia do joelho), SBRATE (sociedade brasileira de artroscopia e trauma esportivo) e da SBOT(sociedade brasileira de ortopedia e traumatologia). [CRM/GO: 11552 | SBOT: 12166 | RQE: 7240].

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo